quarta-feira, 30 de abril de 2008

Um Lugar Do Caralho


(Júpiter Maçã)

Eu preciso encontrar um lugar legal pra
Mim* dançar e me escabelar
Tem que ter um som legal, tem que ter gente legal
E ter cerveja barata!
Um lugar onde as pessoas sejam mesmo afudê,
Um lugar onde as pessoas sejam loucas e super
Chapadas
Um lugar do caralho

Sozinho pelas ruas de São Paulo eu quero achar
Alguém pra mim.
Um alguém tipo assim:
Que goste de beber e falar, LSD, queira tomar e curta,
Syd Barrett e os Beatles
Um lugar e um alguém que tornarão-me mais feliz
Um lugar onde as pessoas sejam loucas e super chapadas
Um lugar do caralho

Sozinho pelas ruas de São Paulo eu quero achar
Alguém pra mim.
Um alguém tipo assim:
Que goste de beber e falar, LSD, queira tomar e curta,
Syd Barrett e os Beatles
Um lugar e um alguém que tornarão-me mais feliz
Um lugar onde as pessoas sejam loucas e super chapadas
Um lugar do caralho

* só eu piro nos erros de português das músicas? ah, foda-se, é licença poética.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Fragmentos de um Discurso Amoroso – Roland Barthes

Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo por sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.

Interpretação: não é isso que quer dizer seu grito. Esse grito, na verdade, ainda é um grito de amor: “Quero me compreender, me fazer compreender, me fazer conhecer, me fazer beijar, quero que alguém me leve com ele”. É isso que significa o seu grito.

A catástrofe amorosa está talvez mais próxima daquilo que se chamou no âmbito psicótico, de uma situação extrema, que é “uma situação vivida pelo sujeito como tendo irremediavelmente que destruí-lo”; a imagem foi tirada do que se passou em Dachau. Não será indecente comparar a situação de um sujeito que sofre de amor a um prisioneiro de Dachau? Pode uma das ofensas mais incríveis da história se repetir num incidente fútil, infantil, sofisticado, obscuro, que aconteceu a um sujeito confortável, que é apenas presa do seu imaginário? Essas duas situações têm no entanto isso em comum> são, ao pé da letra, de pânico: são situações sem resto, sem troco: me projetei no outro com tal força que, quando ele me falta, não posso me retornar, me recuperar: estou perdido para sempre.
(Bruno Bettelheim)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

quinta-feira, 24 de abril de 2008

quarta-feira, 23 de abril de 2008

terça-feira, 22 de abril de 2008

Vanguart


(Mallu Magalhães)

Ah, se eu fizesse tudo que eu sonho.
Se eu não fosse assim tão tristonho
Não seria assim tão normal

Ah, se eu fizesse o que eu sempre quis,
Se eu fosse um pouco mais feliz
Levantasse o meu astral

7 dias vão e eu nem fui ver
7 dias tão fáceis de se envolver

Ah, se eu tivesse fotografado
Se eu tivesse integrado
Num mundo sobrenatural

Ah, eu seguiria o realejo
Desenharia o que eu vejo
No meu cereal

30 dias do mês que ficou pra trás
E eu só mais um desses meros tão mortais

Ah, se eu fizesse alguma diferença
Se eu curasse uma doença
Com uma força genial

Ah, eu cantaria pra fazer sorriso
Eu perderia o meu juízo
Só pra ser especial

7 dias vão e eu nem fui ver
São 7 dias tão fáceis de se envolver

30 dias do mês que ficou pra trás
E eu sou só mais um desses meros tão mortais

Ah, se eu fizesse tudo que eu sonho.
Se eu não fosse assim tão tristonho
Não seria assim tão normal

Ah, se eu fizesse o que eu sempre quis,
Se eu fosse um pouco mais feliz
Se eu levantasse o meu astral

Tchubaruba

(Mallu Magalhães)

If you don't know who you are
You can tchubada, you can tchubaduba


(o desenho é tosco e é meu)

Tirinha também vale







terça-feira, 8 de abril de 2008

Fidelity



(Regina Spector)

I never loved nobody fully
Always one foot on the ground
And by protecting my heart truly
I got lost
In the sounds

I hear in my mind
All these voices
I hear in my mind
All these words
I hear in my mind
All this music
And it breaks my heart
And it breaks my heart
And it breaks my ha-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aart
And it breaks my ha-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aart

Suppose I never, ever met you
Suppose we never fell in love
Suppose I never ever let you
Kiss me so sweet
And so sah-ah-ah-ah-oft

Suppose I never, ever saw you
Suppose we never, ever called
Suppose I kept on singin' love songs
Just to break
My own fall
Just to break my fa-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aall
Just to break my fa-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aall
Just to break my fa-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah-aall
Break my fall
Break my fall

All my friends say
That of course it's
Gonna get beh'uh
Gonna get beh'uh
Beh'uh, beh'uh, beh'uh, beh'uh
Behtur, bettur, betterrrr, ohhh...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Poesia

(Carlos Drummond de Andrade)

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo. Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

As sem-razões do amor

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

O Mundo é Grande



(Carlos Drummond de Andrade)

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Suicídio

(Leminski)
já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

Amor acaba

(Leminski)

Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Balança

(Leminski)

entre a dívida externa
e a dúvida interna
meu coração comercial
alterna

Erra Uma Vez

(Leminski)

nunca cometo
o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez

Alguns haikais

(Leminski)

a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome

Confira
Tudo que respira
Conspira

Essa vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem

Abrindo um antigo caderno
vi que antigamente
eu era eterno

Pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando

Não discuto
com o destino
o que pintar eu assino

Da vida nada se leva,
a não ser a vida levada
que a gente leva.

Ser

(Leminski)

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Eu

(Leminski)

eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha

Bem no Fundo

(Leminski)

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Anônimo

Verdade
Não te quero metade
Mesmo que para isso
Me custe a vida inteira

Quem sou?

(Fernando Pessoa - Álvaro de Campos)

Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?
Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.
Começo a ler, mas cansa-me o que ainda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Sei lá de quem



Eu não quero ter razão. Eu quero é ser feliz.

Mania de sentir

(Fernando Pessoa)

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto.
Eu Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

Anaïs Nin



We don’t see things as they are. We see them as we are.

Não trai

(Vinícius de Moraes)

Quem é homem de bem não trai
O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai, não vai
Assim como não vai, não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem

Diamonds on the inside

(Ben Harper)

I knew a girl
Her name was truth
She was a horrible liar.
She couldnt spend one day alone
But she could'n't be satisfied.
When you have everything,
You have everything to lose.
She made herself
A bed of nails
And shes plannin' on puttin' it to use.

Mudança

(Clarice Lispector)

Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lugar da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
Procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente…

Poema em Linha Reta




(Fernando Pessoa)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Quero ser outra

(acho que não tem título,
mas é do Fernando Pessoa)

Se estou só, quero não estar,
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.

Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.

A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.