terça-feira, 29 de abril de 2008

Fragmentos de um Discurso Amoroso – Roland Barthes

Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo por sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.

Interpretação: não é isso que quer dizer seu grito. Esse grito, na verdade, ainda é um grito de amor: “Quero me compreender, me fazer compreender, me fazer conhecer, me fazer beijar, quero que alguém me leve com ele”. É isso que significa o seu grito.

A catástrofe amorosa está talvez mais próxima daquilo que se chamou no âmbito psicótico, de uma situação extrema, que é “uma situação vivida pelo sujeito como tendo irremediavelmente que destruí-lo”; a imagem foi tirada do que se passou em Dachau. Não será indecente comparar a situação de um sujeito que sofre de amor a um prisioneiro de Dachau? Pode uma das ofensas mais incríveis da história se repetir num incidente fútil, infantil, sofisticado, obscuro, que aconteceu a um sujeito confortável, que é apenas presa do seu imaginário? Essas duas situações têm no entanto isso em comum> são, ao pé da letra, de pânico: são situações sem resto, sem troco: me projetei no outro com tal força que, quando ele me falta, não posso me retornar, me recuperar: estou perdido para sempre.
(Bruno Bettelheim)

Nenhum comentário: